terça-feira, 19 de abril de 2011

Obesidade Infantil, entrevista concedida a jornalista Alba Pinkusfeld




OBESIDADE INFANTIL
Psiquiatras afirmam que por trás de um obeso sempre poderá existir um problema psicológico, agravando-se devido a nossa cultura onde a sociedade exclui os gordinhos de várias brincadeiras devido a sua situação. Isso só leva a criança ou adolescente a piorar porque quase sempre são tímidas e sentem-se envergonhadas, acabam se isolando e fazendo da alimentação uma “fuga” da realidade, isto é, quanto mais rejeitado, mais ansiosos mais comem.
Para tirar algumas duvidas entrevistamos a psicanalista Isis Figueiredo, da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro.
A – Como a família pode ajudar a criança /adolescente obeso?
I. Como você mesmo expos?A obesidade é uma questão complexa. Passa pela mudança de hábitos, pela falta de tempo, até mesmo por status. Vou contar uma cena que vi. Estava numa quitanda famosa pela qualidade de suas frutas e verduras. Vi uma mãe, que parecia uma pessoa de pouco poder aquisitivo com a filha que devia ter em torno de quatro anos. O carrinho estava abarrotado de pacotes coloridos... Fiquei chocada com a quantidade de química que aquela criança iria consumir. Mas, essa mãe deveria estar achando que estava proporcionando um grande prazer a essa filha. Prazer que ela mesma deve ter ambicionado um dia. Primeiro, a família deve conhecer suas próprias motivações, essa criança tem uma função na família? Ela une os pais? Será que se eles tiverem que cuidar dessa criança, evitam pensar em seus problemas? Por que uma criança obesa vive numa casa onde a geladeira é uma farra de açúcar? Os pais são sempre bem intencionados que fique muito claro, porém às vezes têm motivos que eles mesmos desconhecem.
Todo tempo lembrar a criança que ela é gorda, ela corre o risco de se ver como gorda, mesmo que fique abaixo do peso. Em suma, um programa de promoção de saúde deve ser feito por toda família, ou seja, refeições saudáveis à mesa, com práticas de exercício com prazer, sem sofrimento.
A – As críticas constantes são prejudiciais ou ajudam a criança a não se  esquecer da sua condição de obeso?
I-Acho que adiantei essa resposta na anterior. Mas você me dá a oportunidade de fazer um acréscimo.
Fingir que a criança não está acima de seu peso também é nocivo, distorce a realidade. Mas, críticas constantes humilham e paralisam. Quando os pais se incomodam excessivamente com uma limitação de um filho, (e é importante salientar que a grande maioria das limitações, sejam quais forem, são temporárias). Essa intolerância dos pais pode indicar uma insatisfação deles próprios que é projetada na criança. Eles não se sentem capazes e ficam com  raiva porque podem sentir a criança como a denúncia de sua incapacidade ou impotência frente a dificuldade em mudar a cena familiar. Uma vez vi uma mãe comentar com uma fonoaudióloga que seu filho não pronunciava algumas palavras direito. A fono recomendou: não o corrija, irá inibi-lo, fale corretamente, conte estórias, deixe que o ouvido dele se habitue a pronuncia correta sem que se sinta humilhado. Ouvi isso há muito tempo e achei um conselho precioso, que se aplica a muitas coisas. Ou seja, pais não se angustiem com as dificuldades de seus filhos, vocês precisam tranquilizá-los, acreditarem neles e na capacidade deles de superação e na de vocês de paciência, e no que estão oferecendo.
A  - A ansiedade é apontada como uma das causas, isso é verdade?
Totalmente. Ansiedade, angústia, tristeza, raiva são sentimentos humanos, que a modernidade teima em banir da normalidade. Vivemos num país com uma população pobre e ainda assim se consome mais benzodiazepínicos (calmantes, antidepressivos..) que dependem de receita médica do que de analgésicos.
Ou seja, o homem moderno não suporta sentir, vai ao médico que sem saber o sentido desse desamparo medicaliza, algo que é da ordem do existir.
Que fique claro que não sou contra avanços tecnológicos, e o alívio que um remédio pode proporcionar. Sou contra os abusos.
Retornando, a angústia sentimento difícil de ser suportado, se não conhecido e elaborado psiquicamente, vira um sintoma abrandado de várias formas sintomatológicas, dentre uma delas a obesidade, mas temos desde a alienação através de uma vida frente à TV ou computador ao uso de drogas. Existe um filme, duro de assistir, mas que retrata de forma brilhante isso se chama “Réquiem de um sonho”
A – A senhora tem alguma dica para os pais?
Pais nossos filhos são surpresas. Não são um modelo mais bem elaborado do que somos. Sejam felizes esse é o melhor legado a deixar para um filho, pais felizes aceitam melhor as limitações de um filho. Quando falo que são temporárias isso é importante de ser lembrado.
Às vezes a criança não está indo bem na escola, ela passa a ser vista como limitada. Quando ela está precisando de tempo para crescer, quantas vezes vi crianças rotuladas de burras que na verdade possuíam uma criatividade acima da média. Aliás, na História do mundo encontramos milhares de exemplos famosos. Cientistas, políticos competentes e influentes que na infância foram considerados inaptos!
Ou seja, pais sejam tolerantes com vocês e serão tolerantes com seus filhos, joguem como um time: todos estão do mesmo lado tentando fazer gol. Não estão em lados opostos onde um joga o sentimento de impotência para o outro, como na brincadeira do chicotinho queimado, ninguém quer aquilo: o filho come para aliviar seu sentimento de angústia/ rejeição e culpa os pais por isso, os pais acusam o filho de não ter força de vontade suficiente para emagrecer e vira emblema da incapacidade e impotência dos pais.
Família é time que caminha junto, amor, palavra que virou sinônimo de pieguice ainda é o maior remédio da humanidade.
Isis Figueiredo
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