terça-feira, 10 de maio de 2011




                                                                 

                                                                   O  TEMPO


O que é o tempo?
Aciono o cronômetro da marcação zero até meu dedo apertar o cronômetro, nesse breve instante apreendo o tempo. Tenho a ilusão que dominei esse instante.
Sem um cronômetro o que é o tempo?
É o instante zero de minha vida, a hora que recebo uma palmada e choro, ao momento zero de minha existência onde paro de respirar. Esse foi o meu tempo mensurável.
Mas percebo que quando tinha 4 anos, 5 minutos tinham uma duração diferente da que tem agora. O que aconteceu?
Por que as coisas, moradias, ruas, pessoas, geladeiras, carros pareciam mais eternos do que agora? Comprava-se uma geladeira para durar toda vida. Agora tenho que levar em conta o tempo de garantia, porque pode ser essa minha segurança de ter essa geladeira.
Ou seja, não há consistência, segurança, garantia na matéria?
O modelo do computador ficou obsoleto! O que houve com a concretude das coisas?
A velocidade da tecnologia, da informação fez com que a concretude da matéria, agora perpassada pelo tempo perdesse sua propriedade, e fez com que: “tudo que é sólido se desmanche no ar.”.
Se nem a velha e sólida geladeira passou a ser confiável, e as relações? Casamento até que a morte os separe? O que é isso? Ficou num casamento que não traz um êxtase permanente? A mídia mostra pessoas lindas, siliconadas, que” são felizes” e que se casam quantas vezes se fizer necessário.
Estou reacionária? Não, não sou a favor de casamentos doentes, mas também não sou favorável a intolerância.
Porque essa mudança do sólido para o líquido, essa fluidez gera ansiedade, impotência. Há um esvaziamento do singular, do humano para o privilégio da imagem.
A mulher símbolo de beleza em todos os tempos, que antes podia ser: loura, morena, “cadeiruda”... Era o tempo onde a frase” o que seria do amarelo se todos gostassem do verde?”, tinha sentido, hoje a tentativa é abolir as diferenças!
A mulher hoje é loura, cabelos lonos, lisos, olhos azuis, corpo marcado com músculos cibernéticos, peitos, et..plastificados, a mulher botóx contemporânea, nega o efeito do tempo, como se fugisse do dedo no cronômetro que um dia marcará o angustiante” the end”.
Nessa corrida para não se tornar obsoleto o ser humano sofre para atender demandas que não lhe são naturais, características, vivendo uma solidão jamais vista em tempo algum.
Mas nem tudo está perdido! O homem possui uma força mortal, Tanatos, mas também possue eros dentro de si.
E Eros numa resposta ao sentido descartável e destruidor, fez com que os homens mais do que nunca registrassem sua história, a valorização dos museus, lugar onde “se conserva” o tempo, e uma maior preocupação ecológica. Se essa velocidade torna tudo obsoleto, como cuidar de nossa terra?
Isis Figueiredo