quarta-feira, 20 de julho de 2011

Correspondência...

        

     As cartas trocadas entre Freud e Fliess provavelmente, constituem, isoladamente, o grupo de documentos mais importantes da história da psicanálise.
     Foram 17 anos de correspondência.Nela Freud revela abertamente e com detalhes os processos de raciocínio que conduziram a suas descobertas.
     Com a morte de Fliess, sua esposa Ida tenta reaver as cartas em poder de Freud, mas não consegue e vende as cartas que possue a um comerciante, que por sua vez as vende a princesa Marie Bonaparte, grande amiga de Freud, que lhe escreve avisando que tem as cartas em seu poder e pergunta ao amigo que destino dar as mesmas. Freud lhe responde: “ nossa correspondência foi a mais íntima que você possa imaginar. Seria altamente embaraçoso que viesse a cair nas mãos de estranhos. Assim, é uma extraordinária obra de amor que você as tenha conseguido e livrado do perigo. Lamento apenas a despesa que teve. Posso oferecer-me para dividir  a metade do custo com você?”
     Resposta de Marie:” Minha idéia é a seguinte: adquirir as cartas, para que não sejam publicadas por qualquer pessoa, e conservá-las por alguns anos, por exemplo, numa biblioteca nacional- em Genebra, digamos onde há menos razões para temermos revoluções ou os riscos de uma guerra- com a estipulação que não sejam examinadas  durante oitenta ou cem anos após sua morte. Quem poderia então ser prejudicado, mesmo sua própria família, caso haja alguma coisa nas cartas? “
     Um mês depois Marie a Freud:
     “Quero tranquilizá-lo de imediato quanto às cartas a Fliess. Apesar de ainda estarem na Alemanha, já não se encontram em poder da “bruxa” ( Ida Fliess) e já pertencem ao Sr. Stahl, que as comprou dela”.
     Quando Hitler invadiu a Áustria em março, havia o perigo de que o banco judeu, onde estavam as cartas, fosse saqueado,  Marie dirigiu-se a Viena, onde, por ser Princesa da Grécia e da Dinamarca, foi-lhe permitido retirar o conteúdo de seu cofre particular na presença da Gestapo; com toda certeza, eles teriam destruído a correspondência, caso a tivessem descoberto... Quando ela teve que deixar Paris, então prestes a ser invadida, e rumar para a Grécia, em fevereiro de 1941, depositou os preciosos documentos na Legião Dinamarquesa de Paris. Esse não era o lugar mais seguro, mas ....Paris, juntamente com a Legião Dinamarquesa, foi poupada.
     Depois de sobreviver a todos esses perigos, as cartas enfrentaram bravamente o quinto e último deles, representado pelas minas colocadas no Canal da Mancha, e assim chegaram a Londres em segurança; tinham sido embrulhadas em material impermeável, capaz de flutuar, para que tivessem uma chance de ser resgatadas, na eventualidade de um naufrágio.
     A saga das cartas se iniciou em janeiro de 1937 e só no final da década de 40 as cartas foram entregues a Anna Freud.
     As cartas agoram aportam em Niterói, e lhes faço o convite para através delas mergulharmos no universo freudiano. Na vida e na obra  desse homem com suas humanidades e genialidades. Através das cartas, compreendermos um pouco mais do que há de singular no ser humano que é o Inconsciente, que com toda sua riqueza e também maldição muitas vezes nos faz sentir tão distantes  do que queremos ser, e do que constatamos ser. Proponho uma viagem nas cartas...

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