sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Nascimento e Mudanças

Ansiedades na Situação de parto

Trataremos das ansiedades que ocorrem em diversos momentos, desde os primeiros sintomas até a finalização do parto.
Começaremos por destacar o significado biológico do processo: a separação de dois organismos que até esse momento viveram juntos, um dentro do outro e a expensas deste, numa relação de total dependência e de íntimo contato permanente. A partir da expulsão, a criança adquire vida própria, devendo, nesse mesmo instante, encarregar-se de uma variedade de funções fisiológicas que até então eram cumpridas pela mãe, como a respiração, a alimentação, a evacuação, etc.
Os Primeiros Sintomas
A percepção das contrações de dilatação é variável, inclusive nas primíparas. A ansiedade de não saber o que vai acontecer, tudo que escutou da experiência de outras mulheres, e o próprio fato de se separar do bebê são fonte de ansiedade para a mulher.
Sobre a separação do bebê não é difícil constatar, durante a gestação a maioria das mulheres vivem um sentimento de plenitude narcísica, em geral, a gravidez é valorizada e idealizada, mulheres grávidas são identificadas com a virgem Maria, santificadas! Nunca com Eva a mulher que realmente comeu a maçã. Além desse reforço narcísico, a separação pode levar algum tempo para ser elaborada, o nascimento psicológico da criança para a mãe pode não coincidir com o nascimento biológico da criança.
Qual enfermeira ou obstetra já não viu uma puérpera passando a mão sobre a barriga e falar de seu estranhamento em relação a esse novo vazio?
O Internamento no Hospital
Mais ansiedade, o hospital vai aceitá-la? Será que vai se bem atendida? Se for em instituição pública esse temor é muito maior. Será que vão ligar para sua dor?
O Processo de Dilatação
A culminância do processo de dilatação traz consigo uma modificação nas sensações. O apoio da cabeça do feto no assoalho perineal e a conseqüente compressão do reto produzem estímulos de tipo reflexo evacuativo anal que, além de surpreender e assustar, são de algum modo dolorosos.
Se a angústia traumática, às vezes exacerbada por um nascimento difícil, se une a uma intensa ansiedade de castração ou de esvaziamento, a crise do período de transição assume características dramáticas, psíquica e fisicamente. Além do estado de excitação, com gritos e gestos bruscos, podem produzir-se fenômenos de delírio, com elementos persecutórios contra enfermeiras, familiares, ou ,às vezes, o próprio filho.Em outros casos, instale-se um estado de retraimento,às vezes com características catatônicas.Entre os sintomas somáticos intensos, mencionaremos a inércia uterina, ou a temida eclampsia,ou a aceleração das contrações uterinas em forma perigosa para o feto.
            Tudo isso revela a necessidade da condução psicológica da parturiente, nesse momento, por parte de pessoas especializadas e familiarizadas com tais quadros, isto é, obstetras,atendentes,enfermeiras,etc.Sem dúvida, se a personalidade da gestante foi devidamente estudada durante a preparação,pode -se  prevenir as crises, diminuindo sua intensidade,já que os profissionais estão de posse de recursos mais amplos para resolvê-las.A farmacopéia atual é um aliado valioso,mas seu emprego se torna muito eficaz quando se adota o enfoque psicológico conveniente.

Por que achei importante abordar a ansiedade do parto antes de falar em depressão puerperal?
Porque muitas vezes na hora que o bebê está nascendo a paciente regride emocionalmente, pode agredir a equipe, não colaborar fechando as pernas ( o que angustia a equipe pelas conseqüências que isso pode trazer para o bebê), a paciente dizer que não quer o bebê , não olhá-lo são comportamentos possíveis nesse momento que passada algumas horas do parto, o comportamento da paciente em relação ao bebê pode mudar integralmente. E um comportamento deste observado pela equipe pode ser avaliado como uma possível depressão ou psicose puerperal quando muitas vezes é uma ansiedade pertinente a hora do pa

 A DEPRESSÃO PUERPERAL

Primeiros dias que se seguem ao Parto:

  1. Mudança no centro de gravidade do corpo:

Uma das primeiras tarefas é retomar posse de seu corpo. Constatar que não é o mesmo, tem nova aparência, e que deve preencher novas funções.

A fragilidade psíquica vivida com a mudança acarretada por esse novo nascimento, durante esses primeiros dias, tudo é motivo para pequenos dramas.

O que acontece a mulher, após o parto não é, de forma alguma, o radioso paraíso com o qual a lenda anuncia a chegada do bebê.

Uma das primeiras decepções da mulher, nos momentos que se seguem ao parto refere-se ao seu próprio corpo. Muitas imaginam que, logo depois de o bebê nascer, vão retomar suas formas anteriores de imediato.
A essa mudança física se coloca uma ainda mais significativa, a mulher que antes era a filhinha de seus pais, portadora desse novo corpo marcado pela experiência da gravidez agora passa a um novo lugar cheio de significados: o de ser mãe.
Essa mudança não só mexe com o psiquismo da mulher como com a relação com o marido.
Enquanto alguns, mulheres e/ou homens, não vêem incompatibilidade entre sua função de mãe e seu papel de esposa e mulher sedutora, e conseguem conciliar esses papéis sem dificuldades, outras, quando se tornam mães, cumprem sua função de mãe e abandonam toda a sedução. Alguns por sua vez, mesmo durante a gravidez não conseguem ter relações sexuais com suas mulheres, uma das desculpas freqüentes é a fantasia de que irão machucar o bebê. Para alguns casais um dos motivos de depressão puerperal se deve a esse novo ajuste, algumas mulheres se sentem incapazes de saírem do lugar de filha, necessitam da presença de suas mães nos cuidados do bebê, se sentem inseguras e impotentes diante do bebê. Outras, se sentem só e ameaçados com o afastamento do marido, seja porque este também não consegue abandonar seu lugar de ser cuidado/paparicado para o de cuidador. São homens que nesse período inventam todo tipo de compromisso, do jogo de futebol a uma dedicação maior ao trabalho que os mantenham afastado de casa e de sua nova responsabilidade e lugar de pai. Ou que se sentem perdidos frente a essa mulher, antes desejada, agora santificada pela maternidade e por isso intocável. Como se relacionar integralmente com essa mulher? Alguns casais adotam uma nova forma de se chamarem, se antes era: “meu amor”, “meu chuchu”, etc...
Agora passa a: “mãe” “pai”, num linguajar coloquial, como comer a mãe?

Junte-se a essas transformações a premência dos cuidados ao bebê que não deixam tempo livre para que a mulher cuide de si mesma. Há uma urgência: a atenção ao bebê. A atenção a seu próprio corpo e atenção ao marido são relegados a segundo plano.
É necessário tempo para reconstruir a mulher social, destituída no parto.

A relação da mulher com o hospital

Muitas mulheres têm a ilusão de que o hospital é um lugar de repouso e quietude.
Só se dão conta da balbúrdia que agita os corredores, as enfermeiras que circulam, o barulho dos elevadores, os carrinhos de alimentação, os baldes e vassouras do pessoal da limpeza é uma realidade que muitas só experimentaram após o parto. Algumas se sentiram prazer com essa vida coletiva, incluindo aí as trocas entre as próprias puérperas, outras se sentirão invadidas, desejando intensamente receberem alta para voltarem para suas casas, para retomarem suas rotinas longe das pressões coletivas.

Palavras da Equipe Profissional

Palavras durante o parto quando a mãe não ajuda na expulsão e alguém da equipe diz: “ você quer matar seu filho?” ou no puerpério: “ você não quer cuidar do seu bebê?!” ou “não quer amamentá-lo” ou “ seu bebê é nervosinho, hein !”. Ou “ que bonitinho”, “ que forte”, “grande!”.
Essas palavras contam, porque a medida que é dita por pessoal “competente” pode virar adesivo, verdade absoluta, destino inelutável.

Sobre Amamentação

É incontestável os benefícios da amamentação, como também é incontestável o mal que pode ser feito a uma mulher quando a equipe a acusa de não ser boa mãe porque não amamenta. Ela deve ser auxiliada porque sabemos que o início desse processo é difícil, mas ser respeitada no seu direito e desejo de amamentar. Porque o que conta é como cada uma pode exercer e descobrir sua melhor maneira de ser mãe.

Tomada de Consciência da Separação

Nos dias que se seguem ao nascimento, cada mulher vai viver, à sua maneira e com seu ritmo, essa aventura de reconhecimento do outro, preliminar indispensável para o encontro. Para algumas, essa tomada de consciência e esse reconhecimento são imediatos, porque elas estavam psicologicamente preparadas para isso. Para outras, essa tomada de consciência é mais dolorosa e o reconhecimento demanda mais tempo, passando por etapas especiais. Determinada mulher, que permanece inconscientemente a filhinha de sua mãe, pode se sentir em posição de rivalidade, em relação a esse bebê. Outra fica impossibilitada de reconhecer a alteridade de seu filho.

Nessa tomada de consciência a equipe do hospital pode ajudar quando ao se dirigir ao bebê tratá-lo como um sujeito e não como um corpo a ser cuidado. Um sujeito com nome, com status de “pessoa”

Depressão Puerperal ou “Baby blues”

Mais ou menos pelo terceiro dia, quando a mulher menos espera algo balança dentro dela e ela vira ao avesso. É o momento em que a episiotomia ( quando há uma) começa a cicatrizar e incomodar de outro modo, ela começa a se acostumar com esse bebê e uma pequena contrariedade a faz cair num mar de lágrimas.
Tudo é motivo para drama.
Trata-se de estado depressivo benigno, habitualmente transitório, que aparece na grande maioria das mulheres que acabaram de ter um parto. As estatísticas oscilam entre 70% a 90%.

É preciso discriminar esses estados das descompensações psíquicas graves

No baby blues os sintomas são intermitentes e aos poucos a mulher vai adquirindo confiança em si mesma.

Psicose Puerperal

Na psicose puerperal há uma intolerabilidade de que esta separação se efetue, pois durante a gravidez o "infans" foi investido na fantasia inconsciente da mãe como uma criança mítica, objeto de plenitude a ser reencontrado. Portanto, quando o bebê nasce não se encaixando na fantasia inconsciente da mãe, é sentido por esta como um objeto que ela não reconhece, massa corporal que muitas vezes assume a conotação de objeto persecutório e agressivo. Aqui, a dor não expressa a perda de um pedaço de si mesma, mas sim o trauma diante de um objeto estranho do qual ela não consegue dar conta. Portanto, mais que uma dor, é um horror.
        A gravidez, o nascimento de um filho, muitas vezes desejado, desejo esse que só justificado parcialmente. Quantas casais sabem realmente o sentido que buscam nesse nascimento. Só o desejo de construir uma família? Unir um casal ? Preencher um vazio existencial? Presentear a família? Colocar vida, num momento em que a família tem uma ameça de perda.
Há que vem esse bebê? Que expectativas, sonhos, medos são imantados nesse ser?
E o casal será merecedor de um bebê que atenda a esses sonhos? Vai ganhar um presente ou uma punição?
E aquele homem e aquela mulher que se desejaram, que resolveram dividir casa/comida/roupa lavada,
manterão seu compromisso de parceria? Seu desejo, tesão se manterão nesses novos corpos de mulher/mãe x homem/pai?
A toda essa nova configuração que o mercado louva com algo tão santificado, se apresentam vivências não tão coloridas assim.
O propósito dessas palavras são para que os casais que estão estranhando experimentar desconforto em algo que lhes disseram ser paradisíaco não se sintam ETs, saibam que se sentirem impotentes, cansados, com medo é normal e faz parte de um processo, que com todos esses ajustes e dificuldades ainda vale a pena! 
Meus parabéns aos que se aventuraram  a ser pais, e aos que optaram por não ser também.
Porque nas duas situações há que se ter coragem.
Isis Figueiredo




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